julho 28, 2014

Determinismo cultural


Lendo o que muito se escreve pela blogosfera e nas redes sociais em que toda a gente opina em liberdade, nada contra, embora tenha o direito de eleger os que na minha perspetiva opinam bem, lendo tanta coisa e escrita por tanta gente, há algo que me tem ocupado os pensamentos: a ideia que perpassa de muitos posts, comentários ou afins que afirma ou insinua que certos povos não sabem viver sob determinadas prerrogativas ou liberdades. Por outras palavras, que há nações ou populações que foram feitas para existir sob um determinado número de coisas más, atrofiantes, ultrapassadas ou até desumanas. Ora isto é uma profunda forma de arrogância cultural. Colocar certos povos, cores ou credos sob um determinismo rácico, religioso, geográfico, histórico é inconcebível. É ridículo e falso. 
Há três momentos que retenho das minhas viagens nas outras duas décadas e um deles teve lugar em Paris, num dia comum em que visitava o parque temático da EuroDisney. Fazia sol, era maio, havia gente de todas as formas e feitios e uma coisa em comum: um profundo desejo de diversão, traduzido pela espera naquelas filas organizadas e longas, com filhos ou sem eles. O pensamento surgiu, dentro de mim, rápido e curto: todos mas todos aspiram às mesmas coisas, independentemente das fronteiras externas que os colocam de um lado ou do outro do globo terrestre. As barreiras interiores, as pancas, as taras, os desvios, as loucuras, elas existem, mas não são automaticamente transversais, não fazem parte da natureza de todos. O meio impõe-se sobre as escolhas individuais, muitas vezes, vezes demais, até podemos concluir, mas o ser humano, despojado de qualquer carga coletiva, no mais profundo do seu intimo, quer apenas ser feliz. Todos os povos o merecem, todos os povos o conseguem fazer, ainda que não ao mesmo tempo e da mesma forma simultaneamente. Considerar que só nós sabemos, conseguimos ou merecemos viver no bem e no bom é uma tremenda arrogância cultural, não me canso de repeti-lo. Nada é eterno, tudo se transforma. Recuso completamente, pois, a noção de determinismo cultural. 

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