junho 01, 2014

A pontinha do véu



Na sexta, por necessidade de descanso físico, consegui estar quase duas horas ao final da tarde no sofá, a ver um filme que comprara havia algum tempo. A necessidade não me trouxe senão mais uma belíssima experiência cinematográfica. Uma viagem, portanto. No tempo, no espaço, na história que, confesso, me deixou em lágrimas no final. O filme chamava-se e chama-se "O Véu Pintado", adaptado do romance de Somerset Maugham, autor que estudei vagamente nos tempos da universidade. 
O que me fez ficar arrebatada e comover-me de tal forma? Bom, para já tem todos os ingredientes que me fazem inebriar: exotismo, romance, densidade psicológica (como o trailer do filme engana, o conteúdo é muito mais intimista do que possa parecer e transparecer no tom épico das imagens), atores que me convencem e seduzem. Recomendo-o, pois, vivamente. E não levantando muito o véu, já agora,  sobretudo em relação ao final, deixo, no entanto, alguns apontamentos que retirei desta maravilhosa história. 
1. Trata-se de um filme sobre o amor, sim. Um estudo, até, sobre o surgimento do amor contra todas as expetativas iniciais, sobretudo na figura da esposa que não ama - e trai - o seu aparentemente aborrecido marido. 
2. Tratando-se de um filme sobre o amor, relembra-nos, também, que muitas vezes não valorizamos quem temos e quem gosta de nós, pelo simples facto de não vermos, estarmos cegos, de alguma maneira. Quando alguém de fora nos mostra como esse outro é bom e nobre, por exemplo, passamos a vê-lo com outros olhos, descobrimo-lo, e aí vemos o tempo que perdemos e percebemos o quão fomos tontamente idiotas.
3. Ainda o amor, claro, a dizer-nos que muitas vezes nos apercebemos do valor de alguém ao nosso lado já demasiado tarde, sem nunca lhe termos expressado que estávamos enganados ou o que acabámos por sentir, por orgulho ou outra coisa qualquer.
4. O filme é ainda sobre os surpreendentes caminhos do amor. De como alguém, neste caso, a esposa, não sente paixão pelo marido enquanto ele é bom mas insípido e como tudo se transfigura quando ele se torna menos bom, cruel até, porque movido a orgulho ferido e a um aparente desejo de vingança. Na relação entre ambos, porque a consciência da nobreza e coragem dele em relação aos outros também vai aumentando nela à medida que o vê sob uma outra luz.
5. Finalmente,  e voltando ao nascimento do amor que se dá quase inesperadamente, constata-se que ele vem no meio da total adversidade, como se a rotina deixasse morrer o amor, ou nunca o despertasse, e dificuldades maiores o incendiassem de forma totalmente inequívoca. 



(Não gostando particularmente do trailer, pelas razões apontadas, aqui fica no caso de se sentir alguma curiosidade. Também sei que os meus adjetivos são um bocadinho "entusiasmados", coisa rara nos tempos que vão correndo, mas não vejo razão para ser contida se gosto mesmo de alguma coisa, como é aqui o caso; não quis, nem quero, pois, poupar palavras.)

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