dezembro 10, 2013

Lá longe


Ontem, enquanto esperava que vissem a minha entorse, peguei no único jornal que se encontrava nas cadeiras da sala de espera. Não sei já quem escreveu o artigo, se era editor, jornalista ou nada disso. Falava da escola de Xangai e dos resultados milagre que por lá se operam, fruto das aulas de rajada que os alunos têm, das 8 às 16h, da ausência de intervalos e da competição feroz que se fez fomentar entre os professores. Por fim, sugeria o autor do artigo que nós, portugueses, puséssemos os olhos naquele exemplo, professores, pais, alunos. E comparava-se esse sucesso ao de Ronaldo, porque oriundo, também, de esforço, dedicação e muito trabalho. Certo, nada se obtém de verdadeiramente notável sem estas três vertentes. Nem a inteligência basta, sabemos. Mas refuto essa visão de escola  e de sociedade automatizadas, em que as pessoas são máquinas, sem margem para outros tempos que fazem também o tempo coletivo e individual. Não é preciso trabalhar-se até à exaustão e viver-se sob permanente pressão para se ser excelente. A excelência passa pelas dimensões mencionadas acima, realmente, mas as condições socioeconómicas e background cultural dos discentes também são favoráveis à aprendizagem. E mais, claro, que tem a ver com aquilo que é a qualidade de ensino. Destas e doutras harmonias, nascerão o prazer de aprender, o saber pensar, o equilíbrio entre ambição e qualidade do tempo que só favorecem o sucesso académico e mais tarde o profissional. Tendo em conta a noção de sucesso que tenho, é possível. Sucesso é, em última instância, ser feliz, connosco e com os outros, conseguir ter alma no meio da engrenagem laboral e social. Horroriza-me a escola de Xangai nos moldes em que foi apresentada, pelo menos. Estamos as milhas, sei. Dos seus resultados, infelizmente, mas da sua robotizada prática. E aqui só tenho a dizer ´ainda bem´. 

4 comentários:

  1. Até parecem as lojas chinesas de cá...(fartam-se de vender).

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tudo o que me cheira a mecanização em série de pessoas assusta-me.

      Eliminar
  2. Iria gerar insucesso e mais desmotivação, tenho a certeza. Nada tem a ver connosco! (Dulce Novo)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nem terá com eles, como seres humanos, e não como peças de engrenagem com vista a ter sucesso à força.

      Eliminar