agosto 27, 2012

Em absoluto

Há uma tendência para se fazerem frases absolutas, sobretudo pela parte de quem escreve. Também se dizem, mas a posteridade não as regista da mesma forma. Estas frases põem tudo muito, assim, preto no branco, são ou parecem ser pouco passíveis de serem rebatidas, e demonstrarão ou pretendem demonstrar muitas certezas e com pouco ou nenhum espaço para nuances. Do que me fui lembrar. Mas reparo amiúde nisto, na tentativa de se criarem frases que tenham impacto, em que alguém possa pegar e difundir, o que acaba sempre ou muitas vezes por acontecer. Pois me parece que há sempre alguém que precisa destas frases para se organizar, para dar um certo sentido às coisas, para se sentir de alguma maneira feliz ou até apenas culto. Para muitos será mais fácil acumular verdades absolutas do que refletir e estebelecer uma outra ordem. Quantas vezes não lemos algo que é muito primoroso ou que parece profundo, que pode até ser bonito e que, no entanto, não tem real significado? Pois, sei que fui buscar uma ideia dos diabos. Mas é que há frases, minha impressão, que são muito construídas, muito pensadas para atingir um determinado efeito, numa espécie de marketing de escrita (e/ou de pensamento) a que muitos se deixam render. Eu sou má compradora, não decoro nem divulgo frases com facilidade, a não ser que me surjam repetidamente e me digam, de facto, alguma, muita, coisa. Mas, impressão minha, proliferam frases estudadas a propósito de tudo e de nada nada às quais sou completamente imune. Defeito, decerto. Incapacidade, a de colecionar ditos para a fotografia. Ou alergia. Ao pré-fabricado e depois à propagação em série de coisas que não me soam naturais. As certezas absolutas que não o são. Pelo menos para mim. Absolutamente.

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