junho 24, 2012

Affairs ou de como dei comigo a pensar em traduções


Tenho em casa um DVD para ver adaptado da obra de Graham Greene, The end of the affair. Levei-o para cima há duas noites atrás mas nem vos digo porque não o comecei a ver - dizer que o meu pc não deixou é falar uma verdade e dizer que ele me prega muitas partidas e que preciso de um novo é seguramente outra. Portanto não vou ainda falar do teor da obra, embora fique agendado para breve quando o DVD seja inserido com êxito seguindo os caprichos de um computador que já viu melhores dias. 
Fiquei a pensar na palavra "affair". E nas traduções feitas para o português, de filmes e séries, que muitas vezes não traduzem, literalmente, o verdadeiro sentido do título no original. O fim da aventura, neste exemplo. Mas a palavra aventura tem significados que "affair" não comporta. E "affair" tem conotações que aventura não tem. Podia então traduzir-se como? O fim do caso? "Affair" é uma palavra dos diabos. Não tem uma conotação negativa, mas também não é aquela tradução de romance cor-de-rosa. Não há uma palavra em português que se assemelhe em tamanha eficácia. Um clássico que venero, The Thomas Crown affair foi traduzido, de facto, como O caso Thomas Crown. Há um relacionamento amoroso, quase sempre ilícito e piquant, mas não tão ´jurídico´, ao mesmo tempo.
Mas as traduções duvidosas são muitas, esta não é nada e é bem difícil, provavelmente não havia melhor hipótese. Que dizer da histórica Balada de Hill Street para Hill Street Blues, quando falava dos azuis (farda azul dos polícias) de Hill Street? E que dizer dos espanhóis que ainda fizeram pior e que a traduziram por Cancion Triste de Hill Street? Por outro lado há escolhas que são muito livres, o que pode ser complicado na hora de identificar os filmes. Em Portugal The Godfather é O Padrinho, já no Brasil é O Poderoso Chefão. Penso que a tradução deve ser o mais fiel possível ao original, evitando-se criatividades desnecessárias por parte de quem não criou coisíssima nenhuma. Quanto mais parecido com o título inicial, melhor. Há em Portugal muitos filmes cujos títulos são muito diferentes dos originais, vá lá entender-se porquê.
Por outro lado, também não vejo necessidade de manter muitos títulos em inglês quando é perfeitamente possível traduzi-los. Porque razão há de Tim Burton ter na sua filmografia Eduardo Mãos de Tesoura e Big Fish, por exemplo? Algum problema com (um) grande peixe?  Nota-se muito a tendência para manter títulos em inglês mesmo em filmes para crianças o que não me parece razoável- e sou professora de inglês, portanto, estamos mais do que à-vontade. Até porque há filmes de outras paragens - há, não há? - e o mesmo serve para todos, excetuando nomes próprios ou toponímicos, claro. 
Posto isto, ´end of the affair´. Ainda não é hoje que vejo o filme mas dou por terminado o caso. Quanto à aventura das traduções dos títulos, duvido que esteja terminada. No que isso significa de bom e de mau.

7 comentários:

  1. Nice Post!
    Lets make a toast!

    Há quem traduza por "vamos fazer uma tosta"..
    :)))

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  2. Thanks! :) Apropriadamente, portanto!

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  3. Este tema fez-me lembrar os sketchs "Let's look at the trailer" do Herman José com as suas traduções de filmes completamente disparatadas. De facto, acho que existem traduções infelizes e também não acho correto manter-se os títulos dos filmes infantis em inglês quando as criancinhas não sabem a língua. Porém, apesar dos brasileiros não desenvolverem um trabalho de tradução sério aos nosso olhos, não deixo de achar deliciosas as traduções brasileiras. "O poderoso chefão" é bastante cómica e pode não ser muito correta, mas adapta-se à realidade brasileira. Lá um "mafioso" é um "poderoso chefão".lol As traduções de filmes em Portugal e no Brasil são bem diferentes. Prova disso é um questionário que fiz há uns tempos sobre filmes que tinha visto em Português do Brasil. Dos 50 títulos fui forçada a pesquisar 40, pois os mesmos não me diziam nada. Remato com um bom exemplo para apreciação tua, minha querida amiga: "Vertigo" em Portugal chama-se "A mulher que viveu duas vezes" e no Brasil chama-se "Um corpo que cai". Qual deles o mais distante do original? Marla

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  4. Ah, Marla que delícia de desafio:) Seria interessante um post só com essas diferenças, sim; pois neste caso fizeram-se dois desvios desnecessários, digo eu. Algum problema com vertigem?:)

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  5. e, entretanto, já viu?


    (foi o filme que me levou mais vezes ao cinema. na mesma semana. 5 vezes, para ser precisa. é um dos meus filmes da vida.)

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  6. Não, ainda não! Mas agora convenceu-me, colega, isto que diz é uma grande referência.:) Obrigada pela visita.

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