outubro 02, 2010

A contragosto

                                                         

Tenho para mim a teoria de que as pessoas que gostam de cozinhar são bem mais felizes. Porque a comida constitui uma grande fonte de consolação e prazer. Desta forma, quem cozinha e o faz alegremente, reune uma série de condições que muito contribuem para a felicidade.
Desde já o relaxar. As pessoas que cozinham por gosto dizem relaxar na cozinha, aproveitando, desta maneira, para descomprimir de pressões laborais, nomeadadamente, e outras. Depois, o convívio. Poder convidar e satisfazer com mais ou menos deliciosas iguarias os nossos familiares, amigos e outros, é algo que dá satisfação pelo convívio que permite, pela interacção pessoal que fomenta. Sejamos francos - a maior parte dos rendez-vous familiares e sociais passa, indiscutivelmente, por uma parte entusiastacamente dedicada à comida. Convida-se muito para almoçar, jantar, lanchar e convida-se pouco para uma conversa, tertúlia ou para uma sessão de cinema sem comes e bebes a acompanhar. Ainda por cima num país claramente voltado para a gastronomia. Não me lembro, dos países que visitei, de uma nacional obsessão com a comida como a nossa. E ainda, a reputação. Continua a ser exultante uma reputação de boa cozinheira, sobretudo nas mulheres. Afinal torna-as um bom partido, a tal ideia de que os homens se prendem pelo estômago parece aqui encaixar perfeitamente.

Compreendo agora porque nunca fui um bom partido... Cozinhar não é um prazer, fujo da cozinha quando posso, só faço o muito trivial para me alimentar a mim e aos meus, portanto não relaxo minimamente nesse espaço. Reputação, zero. Pudera, não organizo jantares com muita frequência. Recebo, claro, e adoro mas tem, nesse dia, da cozinha ser partilhada a dois, e eu fico com uma ínfíma parte - a dos doces - portanto, os louros não vão, nem podiam ir, para mim. E depois com isto tudo tenho a casa menos cheia do que gostaria. Quem vem visitar-me, sem comida? Trata-se de um convite pouco apelativo.
Posto isto, concluo que adoraria saber e sobretudo gostar de cozinhar. Até porque sou gulosa e aprecio comida também. Mas tenho verificado que, com o acentuar do tempo, a minha pouca propensão para a culinária (fruto também de um carácter impaciente onde é preciso ter paciência) se tem vindo a esbater ainda mais... Se quero ser feliz,e digo infelizmente por todas as razões que apontei, tenho mesmo que sair da cozinha.

2 comentários:

  1. Não sou mais feliz por cozinhar. A cozinha, para mim é uma forma de magia e enquanto junto os ingredientes e misturo, etc...estou a transformar ingredientes básicos em algo bom, exótico, totalmente diferente da matéria inicial É o acto criativo e o aspecto estético que me faz sentir bem...depois claro que partilho e gosto de ver que as pessoas gostaram. Não encontro interesse algum, na confecção da comida do dia-a-dia, fujo dela e é um desespero diário.

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  2. Obrigada pelo comentário, muito interessante...
    Pessoalmente acho que seria mais feliz porque receberia muito mais e isso é uma coisa de que gosto. E se tivesse prazer em cozinhar, digo eu, não me desesperaria, por vezes, de ter de fazê-lo...

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