agosto 18, 2010

As inverdades


A propósito dos incêndios deste mês, as notícias na televisão davam conta de que um quartel espera as viaturas há já uns longos três anos. O secretário de estado apareceu, então, a dizer que se tinha de compreender isso, uma vez que eram burocracias e trâmites legais que tinham que ser respeitados. Esta resposta tirou-me do sério. Em vez de afirmar que tal situação era incomportável e inaceitável, e de dizer que iria pessoalmente encarregar-se do caso, era o mínimo, na minha opinião, o senhor perspassou uma passividade incrível, a juntar a pouca vontade em resolver as situações com eficácia. A partir disto, extrapolei para conclusões bem gerais. É para mim incompreensível que as pessoas responsáveis não aproveitem os media para actuar de forma eficaz em problemas reais. Estão sempre preocupadas com a sua própria fotografia, sair bem é o objectivo primordial...

Recordemos quando há tiroteios ou situações mais violentas em bairros problemáticos. Aparece logo o presidente da junta ou de uma outra coisa qualquer a dizer que são situações raras, que as pessoas são pacíficas, que se trata de episódios esporádicos e outras tiradas que tais. Em vez de aproveitarem o enfoque dado e de dizerem claramente que precisam de ajuda e que as coisas realmente não estão bem, preferem atenuar, ocultar, na verdade mentir sobre a realidade. E assim não se resolvem as coisas, e assim não se julgam culpados, e assim se perpetuam comportamentos à espera de uma tragédia maior qualquer...

Vive-se, de facto, no país do faz-de-conta. As coisas são difusas e iludidas. A vaidade, o orgulho e o medo de perder o lugar de quem é responsável sobrepõe-se à verdade. Isto aflige-me, isto pertuba-me, isto revolta-me. Pronto, está dito.

1 comentário:

  1. As inverdades são piores que as mentiras Fatinha. Sao enunciadas com o intuito de enganar, mantendo as aparências e a consciência limpa.
    dito por Regina Gaspar (no facebook)

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